sexta-feira, 28 de maio de 2010

Santíssima Trindade


“Senhor meu Deus, única esperança minha, ouvi-me, para que, fatigado, não desista de vos procurar, mas procure sempre, ardentemente, a vossa face. Dai-me forças para vos buscar, vós que a vosso encontro me levastes e me destes ainda a esperança de sempre mais vos encontrar.” (Santo Agostinho)
O Antigo Testamento não revelou a Trindade de Pessoas num único Deus, pois isto poderia dificultar a aceitação do monoteísmo tão incutido ao povo de Israel. Há textos em que Deus fala de si no plural. Tal forma de expressão é comumente entendida como plural de intensidade. Deus é tão forte, tão vigoroso que fala como se fosse muitos. (Cf. Gn 1,26: “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança...”)
A plena revelação da Santíssima Trindade ocorre no Novo Testamento, não, porém de maneira sistemática, mas em linguagem vivencial que a Teologia aprofundou e sistematizou posteriormente.
São Paulo, mais de uma vez, alude às Três Pessoas Divinas, pondo em relevo o papel de cada qual na história da salvação. Exemplo: 2Cor 13,13: “A Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Amor do Pai e a Comunhão do Espírito Santo estejam com todos vocês.” Ainda São Paulo se refere a cada uma das Três Pessoas Divinas e atribui a cada qual uma modalidade de intervenção na história da salvação: Deus, o Pai, é o princípio de realizações, pois é quem desencadeia a história, na qualidade de Criador. Deus Filho é o princípio de ministérios ou funções da Igreja, pois Ele se fez Ministro do Pai para a salvação humana: o Espírito Santo é o autor dos dons ou dos dons ou carismas, pois Ele mesmo é o dom, por excelência, aos homens. Segundo São Paulo, o Pai é tido como o Amor que toma a iniciativa de nos salvar, o filho é o Mediador ou o Pontífice que traz a salvação; esta é aplicada a nós pelo Espírito Santo. Em outras palavras, do mesmo São Paulo, o Pai é Aquele ao qual nos dirigimos, pois dele procedemos por criação; o Filho é Aquele por quem retornamos ao Pai e o Espírito Santo, Aquele no qual retornamos, pois vivemos no Espírito Santo. (“Ninguém pode dizer “Jesus é o Senhor” a não ser no Espírito Santo” 1Cor 12,3). O Espírito Santo é a alma do Corpo Prolongado de Cristo (= a Igreja).
Os Evangelhos também se referem à Santíssima Trindade, especialmente o de São João. O texto mais explícito é o de Mt 28,18s:Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulas, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Em Lc 1,30-35, vemos que a cena da anunciação do Anjo a Maria menciona ao Três Pessoas da Santíssima Trindade, especialmente no versículo 35: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isto, o santo que nascer de ti será chamado Filho do Deus.”
Os discursos dos Apóstolos, no livro dos Atos, também encerram frases trinitárias, como, por exemplo, em At 2,22s: “A este Jesus, Deus ressuscitou e disto nós somos testemunhas. Portanto, exaltado à direita de Deus, Ele recebeu do Pai o Espírito Santo e o derramou e é isto que vedes e ouvis.”
Só se pode conhecer Deus experimentando o amor. Deus não é um conceito, uma teoria, uma definição filosófica. Ele é comunidade de amor. Deus é diálogo permanente e nos ensina que é assim que podemos entendê-lo, conversando com a vida, no amor. Estabelecendo o diálogo, descobrimos Deus, o único, o verdadeiro.
Uma só é a Revelação, sua fonte está no Pai, realiza-se no Filho e se completa naqueles que crêem por meio do Espírito.
Qualquer outra descoberta, que não expresse união e comunhão, é uma desfiguração desse mistério maior que chamamos Deus. Deus é um mistério de amor. O princípio desse amor chama-se Pai. Sua realização completa é o Filho. A perpetuação desse amor é o Espírito Santo. É impossível entender o mistério de Deus sem uma experiência concreta de amor-comunhão. Em uma linguagem mais fácil, podemos entender assim: Deus é amor. E, numa explosão de amor, ele criou o mundo. A humanidade se fragilizou e Ele, num transbordamento de amor-misericórdia, enviou sua Palavra ao mundo (“E o verbo se fez carne e habitou entre nós”). A Palavra mostrou-se ser o caminho, a verdade e a vida e deixou conosco, para nos guiar e iluminar, o Espírito Santo, que é o amor que existe entre o Pai e o Filho e que é doado para cada um de nós.
Que o Espírito Santo mova a humanidade para a experiência desse amor divino e que cada um de nós abra o coração para a ação do Espírito Santo.
Cheguei hoje na Itália para visitar parentes e para participar da Visita Ad Limina Apostolorum dos bispos do Regional Leste 2 da CNBB ao Santo Padre e aos dicastérios romanos. Peço a oração de todos nas minhas intenções suplicando a Santíssima Trindade que me abençoe, ilumine e proteja nestes dias que para mim serão de contemplação de nosso bom Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo. Assim seja!

Dom Eurico dos Santos Veloso

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