quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Curso de Lectio Divina

Entre os dias 04 e 08 de julho de 2011, no Centro Redentorista de Espiritualidade (CERESP) – Seminário Santo Afonso – em Aparecida, foi realizado o Curso de Lectio Divina – Nível II, promovido pela OSIB (Organização dos Seminários e Institutos do Brasil). O curso foi destinado aos seminaristas, tanto estudantes da Filosofia como da Teologia, e contou com a participação de cerca de 60 seminaristas de diversas dioceses e congregações religiosas do Brasil. O curso foi ministrado pelo padre Fidel Oñoro, cjm, sacerdote eudista e diretor do CEBIPAL (Centro Bíblico Pastoral para a América Latina) do CELAM.

Homilia do Papa Bento XVI - Missa com os Seminaristas


VIAGEM APOSTÓLICA A MADRID 
POR OCASIÃO DA XXVI JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE 



SANTA MISSA COM OS SEMINARISTAS
HOMILIA DO PAPA BENTO XVI

Catedral de Santa Maria la Real de la Almudena di Madrid
Sábado, 20 de Agosto de 2011
  
Senhor Cardeal Arcebispo de Madrid,
Queridos Irmãos no Episcopado,
Queridos sacerdotes e religiosos,
Queridos reitores e formadores,
Queridos seminaristas,
Meus amigos!


Sinto uma profunda alegria ao celebrar a Santa Missa para todos vós, que aspirais a ser sacerdotes de Cristo para o serviço da Igreja e dos homens, e agradeço as amáveis palavras de saudação com que me acolhestes. Hoje esta Catedral de Santa Maria a Real da Almudena lembra um imenso cenáculo onde o Senhor desejou ardentemente celebrar a Sua Pascoa com todos vós que um dia desejais presidir em seu nome os mistérios da salvação. Vendo-vos, comprovo de novo como Cristo continua chamando jovens discípulos para fazer deles seus apóstolos, permanecendo assim viva a missão da Igreja e a oferta do evangelho ao mundo. Como seminaristas, estais a caminho para uma meta santa: ser continuadores da missão que Cristo recebeu do Pai. Chamados por Ele, seguistes a sua voz; e, atraídos pelo seu olhar amoroso, avançais para o ministério sagrado. Ponde os vossos olhos n’Ele, que, pela sua encarnação, é o revelador supremo de Deus ao mundo e, pela sua ressurreição, é a fiel realização da sua promessa. Dai-Lhe graças por este sinal de predilecção que reserva para cada um de vós.

A primeira leitura que escutámos mostra-nos Cristo como o novo e definitivo sacerdote, que fez uma oferta total da sua existência. A antífona do salmo aplica-se perfeitamente a Ele, quando, ao entrar no mundo, Se dirigiu a seu Pai dizendo: «Eis-me aqui para fazer a tua vontade» (cf. Sal 39, 8-9). Procurava agradar-Lhe em tudo: ao falar e ao agir, percorrendo os caminhos ou acolhendo os pecadores. A sua vida foi um serviço, e a sua dedicação abnegada uma intercessão perene, colocando-Se em nome de todos diante do Pai com Primogénito de muitos irmãos. O autor da Carta aos Hebreus afirma que, através desta entrega, nos tornou perfeitos para sempre, a nós que estávamos chamados a participar da sua filiação (cf. Heb 10, 14). 

A Eucaristia, de cuja instituição nos fala o evangelho proclamado (cf. Lc 22, 14-20), é a expressão real dessa entrega incondicional de Jesus por todos, incluindo aqueles que O entregavam: entrega do seu corpo e sangue para a vida dos homens e para a remissão dos pecados. O sangue, sinal da vida, foi-nos dado por Deus como aliança, a fim de podermos inserir a força da sua vida onde reina a morte por causa do nosso pecado, e assim destruí-lo. O corpo rasgado e o sangue derramado de Cristo, isto é, a sua liberdade sacrificada, converteram-se, através dos sinais eucarísticos, na nova fonte da liberdade redimida dos homens. N’Ele temos a promessa duma redenção definitiva e a esperança segura dos bens futuros. Por Cristo, sabemos que não estamos caminhando para o abismo, para o silêncio do nada ou da morte, mas seguindo para a terra prometida, para Ele que é nossa meta e também nosso princípio.

Queridos amigos, vos preparais para ser apóstolos com Cristo e como Cristo, para ser companheiros de viagem e servidores dos homens.

Como haveis de viver estes anos de preparação? Em primeiro lugar, devem ser anos de silêncio interior, de oração permanente, de estudo constante e de progressiva inserção nas actividades e estruturas pastorais da Igreja. Igreja, que é comunidade e instituição, família e missão, criação de Cristo pelo seu Espírito Santo e simultaneamente resultado de quanto a configuramos com a nossa santidade e com os nossos pecados. Assim o quis Deus, que não se incomoda de tomar pobres e pecadores para fazer deles seus amigos e instrumentos para redenção do género humano. A santidade da Igreja é, antes de mais nada, a santidade objectiva da própria pessoa de Cristo, do seu evangelho e dos seus sacramentos, a santidade daquela força do alto que a anima e impele. Nós devemos ser santos para não gerar uma contradição entre o sinal que somos e a realidade que queremos significar.

Meditai bem este mistério da Igreja, vivendo os anos da vossa formação com profunda alegria, em atitude de docilidade, de lucidez e de radical fidelidade evangélica, bem como numa amorosa relação com o tempo e as pessoas no meio de quem viveis. É que ninguém escolhe o contexto nem os destinatários da sua missão. Cada época tem os seus problemas, mas Deus dá em cada tempo a graça oportuna para os assumir e superar com amor e realismo. Por isso, em toda e qualquer circunstância em que se encontre e por mais dura que esta seja, o sacerdote tem de frutificar em toda a espécie de boas obras, conservando sempre vivas no seu íntimo aquelas palavras do dia da sua Ordenação com que se lhe exortava a configurar a sua vida com o mistério da cruz do Senhor.

Configurar-se com Cristo comporta, queridos seminaristas, identificar-se sempre mais com Aquele que por nós Se fez servo, sacerdote e vítima. Na realidade, configurar-se com Ele é a tarefa em que o sacerdote há-de gastar toda a sua vida. Já sabemos que nos ultrapassa e não a conseguiremos cumprir plenamente, mas, como diz São Paulo, corremos para a meta esperando alcançá-la (cf. Flp 3, 12-14).
Mas Cristo, Sumo Sacerdote, é igualmente o Bom Pastor, que cuida das suas ovelhas até ao ponto de dar a vida por elas (cf. Jo 10, 11). Para imitar nisto também o Senhor, o vosso corações tem de ir amadurecendo no Seminário, colocando-se totalmente à disposição do Mestre. Dom do Espírito Santo, esta disponibilidade é que inspira a decisão de viver o celibato pelo Reino dos céus, o desprendimento dos bens da terra, a austeridade de vida e a obediência sincera e sem dissimulação.

Pedi-Lhe, pois, que vos conceda imitá-Lo na sua caridade até ao fim para com todos, sem excluir os afastados e pecadores, de tal forma que, com a vossa ajuda, se convertam e voltem ao bom caminho. Pedi-Lhe que vos ensine a aproximar-vos dos enfermos e dos pobres, com simplicidade e generosidade. Afrontai este desafio sem complexos nem mediocridade, mas antes como uma forma estupenda de realizar a vida humana na gratuidade e no serviço, sendo testemunhas de Deus feito homem, mensageiros da dignidade altíssima da pessoa humana e, consequentemente, seus defensores incondicionais. Apoiados no seu amor, não vos deixeis amedrontar por um ambiente onde se pretende excluir Deus e no qual os principais critérios por que se rege a existência são, frequentemente, o poder, o ter ou o prazer. Pode acontecer que vos desprezem, como se costuma fazer com quem aponta metas mais altas ou desmascara os ídolos diante dos quais muito se prostram hoje. Será então que uma vida profundamente radicada em Cristo se revele realmente como uma novidade, atraindo com vigor a quantos verdadeiramente procuram Deus, a verdade e a justiça.

Animados pelos vossos formadores, abri a vossa alma à luz do Senhor para ver se este caminho, que requer coragem e autenticidade, é o vosso, avançando para o sacerdócio só se estiverdes firmemente persuadidos de que Deus vos chama para ser seus ministros e plenamente decididos a exercê-lo obedecendo às disposições da Igreja.

Com esta confiança, aprendei d’Aquele que Se definiu a Si mesmo como manso e humilde de coração, despojando-vos para isso de todo o desejo mundano, de modo que não busqueis o vosso próprio interesse, mas edifiqueis, com a vossa conduta, aos vossos irmãos, como fez o santo padroeiro do clero secular espanhol São João de Ávila. Animados pelo seu exemplo, olhai sobretudo para a Virgem Maria, Mãe dos sacerdotes. Ela saberá forjar a vossa alma segundo o modelo de Cristo, seu divino Filho, e vos ensinará incessantemente a guardar os bens que Ele adquiriu no Calvário para a salvação do mundo. Amém.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Mês Vocacional

Caros amigos
O mês de agosto é um mês muito importante para nós católicos e sobretudo para a Pastoral Vocacional e os vocacionados.
Estamos postando quatro textos importantes para a compreenção do sentido vocacional.
Vejam a seguir.


Dom Benedicto de Ulhoa Vieira
Arcebispo Emérito de Uberaba - MG
Em todas as profissões e postos de comando, existem no correr da história figuras notáveis ou pelo talento ou pela ação ou, até mesmo pelo escondimento. Exemplos notáveis não faltam na Igreja de quem se notabilizaram ou felizmente pela inteligência, pela ação evangelizadora ou, até mesmo pela simplicidade e humildade de suas vidas.
Ao celebrar a festa litúrgica de São João Maria Vianney, pároco exemplar na história, não muito distante no tempo, da Igreja, somos – os padres – convidados a contemplar a vida operosa, dedicada e sublimada deste nobre e conhecido clérigo da Igreja da França.
É ele constituído pelo Papa, como modelo luminoso de quem, fiel a sua sublime vocação tornou-se em todos os assuntos a figura modelar de um verdadeiro pároco, que na paróquia assume como que o posto de pai exemplar de todas as famílias.
Não é difícil na vida atual da Igreja encontrar sacerdotes silenciosos, humildes e dedicados que no seu zelo pastoral são luzes bem claras da ação do sacerdote. Homens de oração, portanto de união íntima com Deus, de dedicação sacrificada ao bem dos irmãos, do desprendimento das coisas materiais, sabem viver integralmente em união mística como o fundador da Igreja: Jesus Cristo. Não fica difícil lembrar a figura do Cura D’Ars como modelo e protótipo do verdadeiro ministro de Deus.
Como prova da aceitação do céu à vida exemplar deste humilde sacerdote francês, seu corpo não foi consumido pela terra e se encontra perfeitamente íntegro em seu oratório silencioso e glorioso no altar lateral da igreja paroquial de Ars, na França. Tem-se a impressão de o Santo ter deixado a terra minutos antes.
Tive a felicidade de celebrar a missa neste altar, com o cálice que era de seu uso diário no tempo de sua vida terrena. Além disso, sente-se um clima de sobrenatural beleza diante daquele humilde altar em que o corpo de São João Maria Vianney se vê intacto como se estivera vivo.
A festa do dia 4 de agosto em homenagem a São João Maria Vianney traz à mente de todos os sacerdotes do mundo o cuidadoso zelo pelas suas obrigações pastorais, pela sua dedicação ao povo de Deus e pela sua união mística com o Senhor do céu.
É este o santo que a Igreja apresenta como modelo para o padre diocesano: viver na oração, dedicar-se exclusivamente aos que dele precisam e respirar um clima sobrenatural do contínuo contato com Deus pela vida contemplativa.
São João Maria Vianney atrai, pela sua vida, os que na aspiração sobrenatural do sacerdócio guardam no coração o desejo sincero de viver na simplicidade os fulgores da vivencia amorosa com Deus. A festa de São João Maria Vianney é um humilde e eloquente convite a todos os párocos para gozarem no dia a dia do seu sacerdócio – que é eterno – as belezas místicas que emanam do exemplo luminoso da vida deste protetor que a Igreja nos apresenta como modelo exemplar da vida pastoral de nossas paróquias.


Ter, 02 de Agosto de 2011 21:02 por: cnbb

Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida, SP

Estamos no mês de agosto, um mês muito rico para a nossa vida em geral. É rico para a nossa vida familiar porque comemoramos o Dia dos Pais e temos a Semana da Família. É rico para a vida eclesial, pois temos grandes solenidades como a Transfiguração do Senhor, a Assunção de Nossa Senhora e Nossa Senhora Rainha. Celebramos grandes nomes da Igreja como Santo Afonso, fundador dos Missionários Redentoristas que cuidam da nossa Basílica Nacional de Nossa Senhora Aparecida, São Lourenço, padroeiro dos diáconos, Santa Clara, tão querida do nosso povo, Santa Rosa de Lima, padroeira da América Latina e que nos recorda a missão continental, o martírio de São João Batista, Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho, a quem recordamos pelo amor ao seu filho e suas lágrimas pela sua conversão.
Recordo, ainda, o grande São João Maria Vianney, o Cura d’Ars. Ele é o padroeiro dos nossos padres e sua memória é a grande motivação para que o mês de agosto seja o mês Vocacional.

Neste mês, pensamos na vocação dos leigos e leigas,  chamados a servir ao Reino de Deus através da sua índole secular, ou seja, sendo fermento na massa, sal da terra e luz do mundo em todos os ambientes em que vivem, ou seja, ambiente familiar, escolar, social, profissional, eclesial, no lazer, etc. Pelo testemunho dos leigos e leigas, muitas pessoas são motivadas a crer  em Jesus Cristo, que nos leva à conversão e à  participação  na comunidade eclesial e na ação evangelizadora da Igreja,  como discípulos e missionários.

Refletimos também sobre a vocação religiosa, a vocação daquelas pessoas que procuram seguir Jesus e à Igreja pela vivência dos conselhos evangélicos: obediência, pobreza e castidade,  na vida comunitária e no serviço a Deus e aos irmãos e irmãs, através da missão específica da ordem ou da congregação religiosa.

Gostaria de pedir a sua atenção  para a vocação sacerdotal. Todos nós sabemos da necessidade e da falta que temos de padres no nosso país, não apenas nas áreas missionárias mais distantes da nossa pátria, mas também,  nas grandes cidades que crescem assustadoramente e o número de padres não acompanha este crescimento, com graves consequências para o povo de Deus, como a dificuldade para a participação na vida da Igreja, em especial nos sacramentos, a falta de acompanhamento espiritual e a pouca presença da Igreja nas grandes e graves questões que marcam a nossa época. Precisamos rezar, e rezar muito, para que tenhamos mais padres, e também para que os nossos padres sejam cada vez mais santos, fiéis a Jesus  Cristo que os chama,  e à missão que lhes é confiada.

Que pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, nossa Mãe e Padroeira, imploremos ao seu divino Filho muitas vocações para a Igreja  e, principalmente, muitos padres santos e preparados, para que o Evangelho seja anunciado, as pessoas se convertam, o mal seja vencido e o Reino de Deus cresça  no coração e no meio dos homens.



Qua, 03 de Agosto de 2011 09:23 por: cnbb

Dom Paulo Mendes Peixoto
Bispo de São José do Rio Preto - SP
Na história concreta de existência das pessoas, um dado fundamental que as identifica é o seu estado natural de vida, a escolha que cada uma faz e assume na expectativa da felicidade. Dizemos e chamamos a isto de vocação, ou realização pessoal.
Nem sempre podemos dizer que uma profissão seja propriamente uma vocação. Muitas pessoas realizam aquilo que não coincide com o que gostariam de fazer. Seria uma vocação errada, ou falta de oportunidade para exercer realmente o que gostaria?
Na verdade, fazemos bem alguma coisa quando temos vocação para tal. Vocação tem a ver com a intensidade com que fazemos algo e a felicidade que daí podemos conseguir. Portanto, a medida da vocação está na amplitude da felicidade vivenciada.
O termo “vocação” vem da palavra latina “vocare”, que quer dizer chamar. No contexto cristão dizemos que o vocacionado é uma pessoa que sentiu em si a vontade de Deus. É uma inclinação interna, que supõe um seguimento, uma resposta concreta de ação e vida.
Não é difícil ver quem realmente é vocacionado. As suas ações são fecundas e benéficas para os outros. Ele põe vida no que faz e se identifica com sua ação. Caminha firme, sem medo e sem vacilar, porque está seguro da própria identidade e missão.
No mês de agosto destacamos alguns tipos de vocações, todas elas identificadas com algum trabalho dedicado ao povo. Falamos da vocação sacerdotal, vocação dos pais, dos religiosos e religiosas, dos leigos e leigas cristãos, entre eles, os catequistas.
São muitos os vocacionados na sociedade, cada um dentro de seus objetivos de vida concreta e com oportunidade de fazer o bem na construção de um mundo melhor e mais saudável para todos. Importa colocar essas qualidades naturais para render e dar frutos.
Essa identidade de vida deve ser descoberta por cada pessoa. Além da descoberta, é uma escolha que supõe muita atenção, principalmente na adolescência e juventude. Havendo um erro, ele pode ser prejudicial e trazer consequências indesejáveis, prejudicando e dificultando um futuro feliz.


Qui, 04 de Agosto de 2011 09:23 por: cnbb

Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá - AP
Depois de quinze anos, transcorridos em duríssimas penitências, num lugar totalmente isolado, um homem tinha conseguido, finalmente, caminhar em cima das águas. Cheio de orgulho e satisfação quis comunicar a façanha ao seu mestre e lhe disse:
- Mestre, depois de quinze anos, finalmente, consegui o poder de caminhar sobre as águas!
- O mestre o olhou de soslaio e depois perguntou:
- E você não se envergonha com isso? O que você conseguiu não vale nada. Qualquer um pode atravessar o rio pagando cinqüenta centavos ao barqueiro. E você gastou quinze anos para conseguir tal resultado!
Como sempre espero que a historinha sirva para entender melhor a página do evangelho deste domingo. Escutando que Jesus caminhou em cima das águas para alcançar a barca onde estavam os discípulos, somos tentados a considerar somente o fato milagroso. Contudo sabemos que não é esta a finalidade dos Evangelhos. A maravilha que os gestos de Jesus suscitam sempre nos deve conduzir a algo mais. Nesse caso, a mensagem é evidente: Jesus nunca abandona os seus amigos. Até os obstáculos naturais como a água, o vento e as ondas não conseguem deter a presença viva e atuante do seu amor. Pedro quer experimentar essa presença, para ter certeza que Jesus não é um fantasma e que confiar nele não é ilusão.  Assim, com os olhos fixos no Senhor para ir ao seu encontro, ele consegue o que parecia impossível. No entanto quando percebe a força do vento e o frio da madrugada, desvia o seu olhar, fica com medo, e começa a afundar. É fácil entender o que o evangelho quer nos dizer: devemos vencer as incertezas e as dúvidas, acreditar firmemente, confiando mais na força da oração e da súplica “Senhor, salva-me!” do que em algum evento fora do comum que, por ventura, possa vir a acontecer.
O segredo da barca de Pedro – a barca dos discípulos e da Igreja toda que continua atravessando o mar e a penumbra da história humana– está na força da fé. Cantamos tantas vezes: “Segura na mão de Deus e vai...”, mas ainda duvidamos e sempre vale para todos nós a reprovação de Jesus a Pedro: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?”. O verdadeiro extraordinário não consiste, portanto, em caminhar sobre as águas – que podemos entender como um sinal – mas na firmeza em sempre confiar no Senhor, nas circunstâncias favoráveis e também no meio dos ventos contrários, que querem nos afastar do Senhor e assim deixar de segurar sempre na mão dele.
Neste mês de agosto, somos convidados a refletir e a rezar pelas vocações. A vida de todos nós é um dom que recebemos gratuitamente e, por isso, também um chamado a gastar bem o tempo precioso que nos é dado. De maneira especial, neste domingo, rezamos pelas vocações sacerdotais. Ao mesmo tempo, podemos e devemos agradecer a todos os padres que procuram viver na melhor maneira possível a missão que lhes foi entregue.
Na vida de todo padre existem momentos inesquecíveis: o chamado e a resposta, a ordenação, a alegria e a responsabilidade de poder servir ao povo a ele confiado. Contudo os anos passam. A rotina, as incompreensões, as dificuldades com o povo, com os outros padres, com o bispo, podem gerar o desânimo e a desvalorização do próprio ministério. Nessa situação, o perigo é ver o ser padre como uma profissão qualquer. As outras profissões parecem mais promissoras, mais compensadoras em termos humanos e financeiros. Também se a medida da vida humana é o sucesso, surgem no coração do padre a incerteza sobre o próprio futuro e a insegurança se será lembrado ou não. Numa sociedade onde o que vale mais são as aparências e o estar no centro das atenções, o trabalho da evangelização, realizado na maioria das vezes com pessoas humildes, em lugares afastados e nas periferias, parece pouco atrativo. Em geral, o medo de não ser valorizado pelos outros como o nosso orgulho gostaria, faz surgir o desejo de aparecer, de ser considerado importante ou indispensável. Por causa disso, pode acontecer que o padre seja tentado de dedicar tempo e energias a outras atividades que, no entender dele, poderão lhe proporcionar mais satisfação e prestigio. O serviço do padre é uma missão, deve passar por dificuldades e perseguições como o próprio Senhor Jesus passou. Quem ama o seu ministério sacerdotal deve se preparar a ser o grão de trigo que, caído na terra, precisa morrer para produzir fruto. O “sucesso” na vida do padre deve ser comparado somente com o sucesso de Jesus Cristo e não com as estrelas que os interesses humanos criam. O segredo do padre sempre será colocar a sua mão na mão do Senhor, segurando-a, sem medo, com humildade e com perseverança. Conseguir fazer isso a vida inteira é o verdadeiro “milagre” que parece impossível a quem não crê. Peço esse milagre ao Senhor para mim e para todos os padres da nossa Diocese.