terça-feira, 12 de abril de 2011

A IDENTIDADE MISSIONÁRIA DO PRESBÍTERO NA IGREJA, COMO DIMENSÃO INTRÍNSECA DO EXERCÍCIO DOS TRIA MUNERA

 
A IDENTIDADE MISSIONÁRIA DO PRESBÍTERO NA IGREJA, COMO DIMENSÃO INTRÍNSECA  DO  EXERCÍCIO DOS TRIA MUNERA
                                
Carta circular
         Apresentamos a seguir um resumo  desta Carta.

Entre os dias 16 e 18 de março de 2009 foi convocada uma plenária da Congregação para o Clero com intuito de refletir sobre o tema: A identidade missionária do presbítero na Igreja como dimensão intrínseca do exercício dos tria munera”. Mesmo sendo uma simples coincidência de datas, não é sem significado que Bento XVI escolheu dar a notícia de um Ano Sacerdotal – celebrado em toda a Igreja de 19 de Junho de 2009 a 19 de Junho de 2010 – no contexto do discurso inaugural desta assembleia.
Bento XVI recorda que não apenas a Igreja, mas também – e exatamente porque intrinsecamente ligado a ela – o ministério sacerdotal é missionário.  O argumento, como é fácil reconhecer, toca pontos nevrálgicos da eclesiologia. A missionariedade pertence à natureza própria da Igreja, como aparece já no decreto conciliar Ad Gentes, onde se lê que “a Igreja durante a sua peregrinação sobre a terra é por sua natureza missionária” (AG. § 2). A missão, portanto, não pertence tanto às ações da Igreja, mas à sua intima constituição, ou seja, não pertence àquilo que a Igreja faz, mas àquilo que a Igreja é. Em outras palavras, ela “é chamada, por sua natureza, a sair de si mesma dirigindo-se ao mundo”.
A missionaridade e a universalidade são elementos constitutivos da vida e ministério de Jesus e, por conseguinte, de todo cristão segundo sua vocação pessoal que, em virtude do batismo e da confirmação, possui o dever de confessar publicamente a fé.
Para o ministro ordenado, a missionaridade não é uma confissão pública mais intensa. Ele é um ser-para-a-Igreja configurado sacramentalmente ao Cristo Pastor, Sacerdote e Cabeça. O ministério sagrado exige uma adesão à apostólica vivendi forma, uma ‘vida nova’, um novo ‘estilo de vida’ completamente comprometido com a missão da Igreja – prolongamento no mundo e na história da missão de Cristo. Portanto, mesmo inserido numa Igreja Particular, a missão do sacerdote, ela é universal.
Este ‘estilo de vida’ provoca uma tensão para a perfeição moral e espiritual da qual depende, em grande parte, a eficácia do ministério ordenado. Deus é a única riqueza que os homens desejam encontrar em um sacerdote. Portanto, segundo o Papa, “parece urgente a recuperação da consciência que impele os sacerdotes a estar presentes e ser identificáveis e reconhecíveis quer pelo juízo da fé, quer pelas virtudes pessoais, quer também pelo hábito eclesiástico, nos âmbitos da cultura e da caridade, desde sempre no coração e da missão da Igreja”.
A missão do presbítero se identifica e se realiza na Igreja. Ela é ‘eclesial’, ‘comunial’, ‘hierárquica’ e ‘doutrinal’.  A missão é ‘eclesial’ “porque ninguém se anuncia nem se leva a si mesmo,  mas, dentro e através da própria humanidade, cada sacerdote deve estar bem consciente de levar Outro, o próprio Deus ao mundo”. É ‘comunial’, nem tanto pelas instâncias visíveis de comunhão, mas porque deriva “da intimidade divina em que o sacerdote é chamado a ser perito”.  “as dimensões hierárquica e doutrinal sugerem que se confirmem a importância da disciplina (este termo liga-se a discípulos) eclesiástica e da formação doutrinal”, em continuidade com a Tradição ininterrupta da Igreja.
No que concerne à especificidade e potestade do ministério sacerdotal, é o próprio Cristo quem constitui seus ministros. Não são simplesmente delegados pela comunidade. Logo, sua missão é a mesma confiada aos Apóstolos – configuração sacramental ao Cristo Pastor, Sacerdote e Cabeça – daí deriva o exercício dos tria munera: múnus docendi, múnus sanctificandi e múnus regendi.
O documento fruto da plenária ressalta que a urgência missionária hodierna exige uma renovada práxis dos presbíteros, dirigida não somente à missão ad gentes, mas à porção do rebanho supostamente evangelizado que pouco  conhece de Jesus Cristo. Insiste de forma contundente que o futuro da Igreja depende dessa ação. É principalmente nas paróquias que os presbíteros, enquanto colaboradores dos bispos, têm responsabilidade “pastoral direta com o acontecimento transformador e redentor que se realiza no cotidiano da sociedade”. 
A singularidade crítica do contexto histórico exige da Igreja, sem desvalorizar o trabalho de congregações missionárias e o frutuoso trabalho de sacerdotes fidei Donum – padres diocesanos que vivem seu ministério nas chamadas terras de missão – uma grande concentração de esforços no que a Encíclica Redemptoris missio chama de missão ad intra. “As Igrejas de antiga tradição cristã (...) não podem ser missionárias dos não cristãos de outros países e continentes, se não se preocuparem seriamente com os não cristãos da própria casa: a atividade missionária ‘ad intra’ é sinal de autenticidade e de estímulo para realizar a outra ad extra, e vice-versa” (RM § 34).
A última parte do documento dá indicações concretas do exercício dos tria munera no tocante à identidade missionária do presbítero.
Múnus docendi: todo exercício do múnus docendi, o dever e a potestade do sacerdote, por excelência o bispo e em sua colaboração o presbítero, de pastorear e ensinar em comunhão e em nome da Igreja, deve tender a Eucaristia.
Neste sentido, o querigma tem importância central. Os presbíteros que exercem seu ministério nas paróquias não devem apenas acolher e evangelizar os que o procuram. É imperativo que busquem, como dito anteriormente, os batizados não praticantes e aqueles que pouco ou nada conhecem de Jesus Cristo. Não devem “deixá-los indefesos (ou seja, privados de capacidade crítica) diante da doutrinação que muitas vezes lhes vem de espaços como a escola, a televisão, a imprensa, a internet e, às vezes, até das cátedras universitárias e do mundo do espetáculo” que às vezes os afastam sistematicamente da verdade ensinada por Nosso Senhor.
Múnus Sanctificandi: Sabe-se que a Eucaristia é o ponto de chegada da missão. “O múnus sanctificandi está ligado à capacidade de transmitir um sentido vivo do sobrenatural e do sagrado, que fascine e conduza a uma real experiência de Deus”. A proclamação da Palavra nas assembleias litúrgicas e “a própria celebração dos sacramentos, bela, condiga e devota, respeitando todas as normas litúrgicas, transformam-se numa evangelização muito especial para os fieis presentes”. É feita uma exortação aos sacerdotes a serem solícitos no sacramento da reconciliação, confessando-se com regularidade e sendo ministros generosos para quem o pedir.
Múnus regendi: “É preciso buscar a execução de uma boa metodologia missionária”. Neste âmbito, os pastores devem pensar a preparação e a organização pastoral nas comunidades eclesiais e paróquias, servindo-se da experiência bimilenar da Igreja e dos novos recursos à disposição. Uma vez que a missão é permanente na Igreja, todos, especialmente os imbuídos de ofício pastoral, devem procurar os meios necessários para dinamizar e otimizar a práxis missionário-pastoral.
Finalmente, o documento destaca “que todos os presbíteros devem receber uma formação missionária específica e cuidadosa. Esta formação deve ter início já no seminário, sobretudo mediante a direção espiritual e um estudo cuidadoso e aprofundado do sacramento da Ordem”, entretanto, “aos presbíteros já ordenados muito beneficiará, e pode-se até tornar necessária, a formação missionária, integrada no programa de formação permanente”. Dada a urgência, pede que cada Bispo e Superior tome as medidas necessárias para dar início a uma renovada e estimulada espiritualidade em seus presbíteros.  

Colaborou nesta edição o Seminarista do Ano Pastoral: Gian Paulo Ruzzi, a quem agradecemos de coração por ter se empenhado em resumir esta carta.

Um comentário:

  1. Deus abençoe ao Seminarista Gian Ruzzi, concerteza a Diocese de Campo Limpo, deve se orgulhar por ter tão dedicado seminarista e um ótimo futuro sacerdote. Abração ao seminarista Gian! Saiba que nós seminaristas da Laboriosa Diocese de Caraguatatuba estamos lendo e refletindo encima de seu resumo. Força nas provações!

    ResponderExcluir